Sobre amizades que nossa sociedade só vê por filmes e livros.
Eram primas; primas e amigas.
Confidentes e as mantenedoras de legados ancestrais.
Uma, a arteira Leda, certa vez em férias no Rio de Janeiro com a família, contou a um boa pinta e de família abastada de Copacabana que havia um vilarejo cheio de árvores frutíferas e moças formosas perto do rio Paraíba do Sul...
- "Um Paraíso perdido!" Você precisa ir lá conhecer!!
A cidade das mangas mais saborosas..
das minas d'água mais límpidas que você jamais verá em outro lugar.."
(ela gostava de inventar histórias).
A prima mais velha e de candura irresistível nada sabia sobe a travessura da prima atrevida, que percebendo a troca de olhares entre os jovens de realidades tão distintas, que talvez jamais viessem a se reencontrar, quis criar o elo e usou de sua fantasia.
Jamais imaginaria que o que fora revelado pela faca enterrada na tronco da bananeira no quintal de tia Mariquinha pelas luas de outonos passados acabava de ser trazido para a realidade.
Pois bem, e assim foi...
Lá pelo final da década de 50, enquanto havia fazendas e o Rio Paraíba Sul corria livre, sem impedimento algum, desembarcou o boa praça, o camarada, boa pinta de família abastada, na pequenina vila e perguntou para a travessa menina contadora de estórias onde estava a mina d'agua tão afortunada, bem como as mangas e cafezais que ela tanto disse serem abençoadas.
Pra sorte de Ledinha o camarada veio a reencontrar o olhar que tanto o impressionara.
Minha mãe ria de fazer com que todos rissem ao contar o causo porque simplesmente inventou a vila e as mil maravilhas pro sujeito sem nunca acreditar que ele algum dia deixaria a praia para ir à vila.
Não apenas foi, como se rendeu ao encanto que havia sido lançado; não o da vila, com suas fazendas esquecidas, mas sim, o da tia Pasquinha.
Apaixonaram-se e desse amor nasceu Beth Balanço e Margareth. Dessa história, que se não tivesse prova viva, seria apenas outro conto, minha irmã ganhou sua melhor amiga;
também ganhei um espelho de obsidiana negra e o camarada, tio Jorge.
Dois anos após a passagem de Ledinha, tia Pasquinha também se foi na mesma data..
E ainda duvidam das coincidências.
Tio Jorge também se foi em um 4 de agosto.
Minha mãe como Getulista sempre dizia:
"Agosto, mês do desgosto".
Entende sobre mundos que perdem um pouco do sentido e fogueiras que precisam ser acesas?
As coisas só tem valia quando compartilhamos com quem amamos, penso eu.
Era da coleção de Karl Marx completa, incluindo o manifesto Comunista, à mesa de ping pong no terraço.
Tardes felizes de minha juventude.
Do jardim belíssimo ao sorriso e abraço caloroso da Tia naquele pedacinho de paraíso que eles construíram e todos os amados desfrutaram.
As vezes canto pras estrelas pra que elas lancem encantos de onde estiverem para que mais encontros felizes ocorram pelas bandas de cá!
Não me esquecerei do conselho quanto a magia da lida com as plantas:
"faça os buraquinhos na terra em noites sem lua, Pimentinha Nina, para que das mudas vinguem flores raras é preciso o tato, o afago silencioso.."
Nunca deixarão de ser necessárias.. A candura, as estórias e a fantasia.
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